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| Foto: Reprodução |
Três suspeitos foram detidos durante uma festa de Carnaval. Testemunhas afirmaram que eles foram agredidos pelos militares
Escrito por Messias Borges
Cinco policiais militares, acusados de lesões leves contra três suspeitos abordados no Carnaval de Fortim de 2019, no Litoral do Ceará, foram absolvidos pela Justiça Estadual. Um dos homens detidos sofreu agressões dos PMs, segundo testemunhas, e morreu logo em seguida, em decorrência de um "aneurisma", conforme laudo da Perícia Forense do Ceará (Pefoce).
A
Vara da Auditoria Militar do Ceará julgou improcedente a denúncia do Ministério
Público do Ceará (MPCE) contra o subtenente Paulo César Gomes Sousa e os
soldados Deraldo Marques de Farias Neto, Lucas Iuri Saraiva Correa, Rogério da
Silva Santos e Francisco Sérgio Patriolino Félix Neto, pelos crimes militares
de três lesões corporais leveis, com concurso de agentes e com o agravante dos
réus estarem de serviço, "por não existir prova suficiente para a
condenação", segundo a decisão judicial, proferida no último dia 21 de
novembro.
Exige
o processo penal um standard rigoroso, o da prova além da dúvida razoável.
Assim, a hipótese fática deve ser considerada provada se não existir qualquer
dúvida razoável quanto a sua veracidade, ou seja, se não houver prova plena ou
além de toda dúvida, como no caso dos autos, onde não existe um acervo
probatório capaz de confirmar a tese da denúncia."
VARA
DA AUDITORIA MILITAR DO CEARÁ
Na
decisão
A defesa dos
policiais militares, representada pelo advogado Oswaldo Cardoso, parabenizou o
Judiciário cearense "por ter feito justiça". "Era inegável a
inocência dos militares estaduais, que possuem um vasto histórico de excelentes
serviços à sociedade", afirmou.
Apesar
de absolver os réus, "tal conclusão não importa em reconhecer falso
testemunho por parte das testemunhas", considerou a Auditoria Militar.
"Mas somente admitir a existência de versão diversa, com verossimilhança
suficiente para afastar o édito condenatório", completou.
COMO
ACONTECEU A MORTE
Segundo
a decisão judicial, o caso aconteceu no Carnaval de 2019, na noite de 4 de
março, em Fortim. "A guarnição formada pelos denunciados fazia
policiamento ostensivo quando recebeu a informação de que um traficante
perigoso do município encontrava-se inserido na brincadeira conhecida por
'Mela- Mela'", narrou.
Os
policiais militares realizaram uma abordagem a um grupo de cerca de 15 homens e
levaram detidos dois adultos e um adolescente suspeitos de cometer crimes no
Município.
Um
dos suspeitos presos, identificado como Victor da Silva Barbosa, "começou
a passar mal, chegando inclusive a cair ao solo. Imediatamente, a composição,
com o escopo de socorrer o preso, solicitou uma ambulância para o levar até uma
unidade hospitalar. Porém, o rapaz veio a óbito", descreveu a Vara da
Autoria Militar, com base na denúncia do Ministério Público.
Entretanto,
testemunhas oculares afirmaram que os suspeitos foram bastante agredidos pelos
PMs. Conforme essa versão, "tais agressões consistiam em chutes, murros e
batidas de cacetetes nas cabeças dos preços. Quando notaram que Victor da Silva
Barbosa estava morto, limparam o local e depois solicitaram o auxílio da
ambulância".
LAUDO
PERICIAL APONTOU 'ANEURISMA'
A
decisão judicial detalhou ainda que a ficha de atendimento do Hospital
Municipal Doutor Waldemar Alcântara, em Fortim, informou que o preso entrou no
estabelecimento hospitalar em parada cardiorrespiratória, sem pulso e em apnéia
(sem respirar).
Segundo
o documento, o Hospital identificou que Victor Barbosa apresentava "lesão
contusa em região dorsal, no ombro direito e no gradil cortal (região das
costelas) esquerdo". E o exame de corpo de delito realizado pela Perícia
Forense do Ceará corroborou que "o rapaz teve sua integridade física
ofendida por cacetete".
Entretanto,
outro exame realizado pela Pefoce, o laudo cadavérico, levou o Ministério
Público do Ceará a denunciar os PMs por lesões corporais leves - e não por
homicídio. O Núcleo de Perícias Médicas e Odontológicas de Russas, ligado à
Coordenadoria de Medicina Legal (Comel) da Pefoce, concluiu "tratar-se de
um caso de morte real por tamponamento pericárdico por aneurisma dissecante de
aorta".
A
médica perita explicou que "o aneurisma dissecante da aorta é uma condição
patológica com múltiplas causas, sendo as mais comuns a hipertensão arterial,
aterosclerose aórtica, doenças congênitas e pós-cirurgias cardíacas; também
pode estar relacionada ao uso de drogas como cocaína e anfetaminas, não estando
clara a etiologia do caso em questão".
diariodonordeste.verdesmares.com.br

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