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Delegada Ana Paula afirma que
foi impedida de entrar na loja em um shopping de Fortaleza no último dia 14. A
loja alega que ela estava sem máscara e consumindo um sorvete.
Duas entidades do movimento
negro entraram com uma ação civil pública na Justiça do Ceará pedindo R$ 40
milhões de indenização à empresa Zara, após a delegada Ana Paula Barroso ter
sido barrada
por um gerente da loja por suposto crime de racismo. A Polícia Civil do
Ceará está
investigando o caso por meio da Delegacia de Defesa da Mulher (DDM) de
Fortaleza.
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'Eu
não preciso andar com uma placa de que sou autoridade policial para ser
respeitada', diz delegada que denuncia loja por racismo
A ação foi impetrada na 15ª
Vara Cível do Tribunal de Justiça do Ceará (TJCE), na última segunda-feira
(20), pelas entidades Educação e Cidadania de Afrodescendentes e Carentes
(Educafro) e Centro Santo Dias de Direitos Humanos, da Arquidiocese de São
Paulo.
De acordo com a ação
impetrada, as entidades requerem "reparação de dano moral coletivo e dano
social infligido à população negra e ao povo brasileiro de modo geral, em razão
de abordagem ilícita e vexatória cometida por agentes das rés em desfavor de
consumidor negro".
Conforme o documento, o ato cometido
pelo segurança da loja não se dirigiu apenas à delegada, mas "trata-se de
mensagem pública, cujo propósito era o de chocar a sociedade, anunciando alerta
grave, cruel e aviltante".
Além da indenização, as entidades pedem, na Ação Civil Pública, a revisão dos
contratos de terceirização da segurança por parte da Zara para que ela exija de
empresas contratadas um rigoroso treinamento de vigilantes e supervisão.
As entidades também solicitam
que a empresa exija de seus fornecedores adoção de medidas antirracistas para
que contratos sejam assinados, revisão imediata de protocolos de abordagem,
entre outros pedidos.
'Não preciso andar com uma
placa', diz delegada
A policial civil disse à TV
Verdes Mares que não precisa andar com uma placa indicando que é delegada
para ser respeitada. Ela também afirmou que não foi barrada pelo gerente
da loja por falta de máscara, como a Zara alega.
"Eu vou ser sempre
abordada porque eu gosto de andar simples no shopping? Às vezes de havaianas,
um pouco despenteada, é o meu jeito despojado de andar. Eu não preciso andar
com uma placa de que sou autoridade policial para ser respeitada", disse a
delegada.
Ana Paula disse, ainda, ter
percebido a sutileza do comportamento preconceituoso, mas que preferiu agir com
cautela e com prudência. Segundo a delegada, após se dar conta do comportamento
racista cometido, o gerente pediu desculpas.
"Você percebe a sutileza
do comportamento preconceituoso, da fala, da abordagem. E é uma suspeita muito
forte. Mas até você ter um indício para você dizer: 'você está preso', eu
preferi ter cautela, agi com prudência, de não me identificar (como delegada),
perguntar realmente à segurança do shopping e só ali, se fosse pra fazer uma
ação, eu fiquei tão assim, sem reação, que quando ele falou várias vezes 'me
desculpe, eu errei com a senhora', eu disse: 'eu queria só que você me dissesse
porque você fez isso', aí no decorrer da fala dele, ele enaltece a questão dos
amigos que ele tem transexuais, negros...", relata a delegada.
Dois advogados que representam
a loja Zara procuraram a policial na delegacia onde ela trabalha, na
segunda-feira (20), para tentar conseguir uma cópia do inquérito que apura a
denúncia de racismo contra a delegada e a
devolução dos equipamentos de vídeo apreendidos no último domingo.
O g1 procurou a Zara para
obter informações sobre o fato de os advogados terem procurado a vítima, mas
não obteve resposta.
A visita dos representantes de
defesa da loja foi confirmada pelo advogado Leandro Vasques, da assessoria
jurídica da Associação dos Delegados de Polícia Civil do Estado do Ceará
(Adepol-Ceará).
Vasques informou que a
delegada Ana Paula disse aos advogados que procurassem a presidente do
inquérito, a delegada Anna Nery.
Punição ao funcionário e à
loja
Se confirmado pelas
investigações, o crime de racismo contra a delegada Ana Paula pode
gerar reclusão
de um a três anos e multa ao funcionário suspeito de cometer a discriminação
racial, e também punição cível à loja, segundo a Comissão de Promoção da
Igualdade Racial da Ordem dos Advogados do Brasil no Ceará (OAB-CE).
A lei nº 7.716, de 5 de
janeiro de 1989, que define e pune casos de racismo prevê que tanto o
estabelecimento quanto a loja podem sofrer punições judiciais, explica Tharrara
Rodrigues, integrante da Comissão de Promoção da Igualdade Racial da OAB-CE.
Fonte: G1
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