Pesam nas altas do câmbio alguns
fatores, como a saída de dólares do País e o déficit da balança comercial em
janeiro
As valorizações do dólar preocupam importadores
brasileiros. Mesmo após notícias otimistas sobre a crise do coronavírus, na
China, na visão de economistas pesam nas altas da moeda a desaceleração da
economia internacional e, no Brasil, os resultados recentes de queda no varejo
e na balança comercial.
O
economista Fabio Silveira, sócio-diretor da MacroSector Consultores, avalia que
há uma maior atratividade pelo dólar. "Se o Fed (banco
central dos Estados Unidos) não baixar os juros o título público americano fica
mais atrativo. O investidor está preocupado com o desfecho da guerra comercial
com a China, ele busca refúgio em moedas seguras, como o dólar."
Do ponto de vista interno, pesam nas altas do câmbio alguns fatores, como a
saída de dólares do País, que somou US$ 44,8 bilhões em 2019, e o déficit da balança
comercial em janeiro, de US$ 1,745 bilhões - pior resultado para o mês em cinco
anos.
Além
disso, o varejo interrompeu sete meses seguidos de alta e registrou queda de
0,1% em dezembro ante novembro, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e
Estatística (IBGE).
Silveira
ressalta que 70% das exportações do País são commodities.
"Estamos vendo uma desaceleração global e, em particular, uma
desaceleração ocorrendo na economia chinesa, sobretudo após o
coronavírus."
O
economista-chefe da consultoria Necton, André Perfeito, afirma que a piora da
situação global pode ser observada, inclusive, na queda dos preços da commodities, das
quais o Brasil depende. Ele diz acreditar que o dólar deve continuar subindo
ainda mais e chegar a R$ 4,60.
Preocupação
Paulo
Castelo Branco, da Associação de Importadores de Máquinas e Equipamentos
Industriais (Abimei), lembra que os importadores já sentem a escalada do dólar desde
o ano passado. "Trabalhamos com a perspectiva de que o dólar suba
mais."
Na
última semana, o presidente da General Motors na América do Sul, Carlos Zarlenga,
disse que a alta da moeda vai levar a montadora a um reajuste no preço dos
carros. Ele lembra que 40% das peças de um veículo de passeio vêm de fora.
"A
gente conseguiu segurar os preços só do que já tinha em estoque, mas isso deve
durar um mês. Dos azeites importados, tivemos de reajustar em até
23%", conta Chania Chagas, sócia da Empório do Azeite.
"Como
70% da produção nacional é do Rio Grande do Sul e o Estado teve uma seca
recentemente, essa safra só deve durar três meses. Então, ou o consumidor fica sem comprar ou
terá de arcar com, no mínimo, 20% de aumento do importado."
No
caso dos vinhos, o presidente da Associação Brasileira de Importadores e
Exportadores de Bebidas e Alimentos (Abba), Adilson Júnior, diz que o setor já
teve de repassar altas de até 12%, por conta do câmbio. "E a tabela já
está defasada."
Também
dependente das importações, o setor farmacêutico acompanha as altas do dólar
com preocupação. Como 95% da matéria-prima usada para a fabricação de
medicamentos vêm de fora e os preços são fixados, as empresas já trabalham com
a perspectiva de redução da margem de lucro ou de revisão de contratações.
"As
empresas se programaram para operar com um dólar em, no máximo, R$ 4,10 neste
ano. O setor está preocupado e se preparando para absorver os aumentos.
Dificilmente alguma empresa vai deixar de fazer um investimento programado, mas
pode deixar de contratar funcionários para uma ação promocional, por
exemplo", diz o presidente executivo do Sindusfarma, Nelson Mussolini.