Criança
com cartaz de protesto contra a violência contra a mulher, no cruzamento das
avenidas Godofredo Maciel com Perimental, no Mondubim. (Foto: MAURI MELO)
Conforme
pesquisa da Defensoria Pública do Estado do Ceará, 163 mulheres, entre 2016 e
2019 revelaram ter passado dez anos para denunciar seus agressores por medo
Levantamento
do setor psicossocial da Defensoria Pública do Estado do Ceará mostra que a
violência psicológica sofrida por mulheres em relacionamentos abusivos é fator
chave na decisão de não denunciar os abusos. A realidade é traduzida em dados:
de 2016 a 2019, um total de 163 mulheres revelaram ter passado mais de dez anos
para buscar ajuda.
Outras
155 relataram ter passado até cinco anos para ter coragem de denunciar. De
acordo com Anna Kelly Nantua, defensora pública do Núcleo de Enfrentamento à
Violência contra a Mulher (Nudem), o medo e a desinformação são os principais
fatores que levam estas mulheres a ficaram em silêncio.
"A
violência psicológica às vezes é muito difícil de ser percebida por elas logo
no início, por isso que elas entram por anos nesse ciclo até que o tipo de
violência se agrava. Quando elas buscam ajuda já têm vivenciado diversos tipos
de abusos", aponta a defensora.
Perfil
Dados
do Nudem mostram que em Fortaleza, até novembro de 2019, o perfil das vítimas
de violência doméstica permaneceu o mesmo nos últimos quatro anos, desde quando
o levantamento é feito. Amostragem foi feita com 573 mulheres que buscaram
assistência no Núcleo e identificou que 35% das vítimas têm entre 36 e 45 anos,
pardas e que estudaram até o Ensino Médio.
Sobre
os agressores, eles são em maioria (47%) ex-companheiros e em 38% dos casos são
os atuais cônjuges, 38%. Estes, mostra o levantamento, têm histórico de terem
sido agredidos na infância.
Alarme
Um
dos dados mais alarmantes, segundo a defensora pública Anna Kelly Nantua, é que
273 das entrevistadas afirmaram não pretender entrar com representação criminal
contra os agressores.
"Muitas
conseguem buscar o núcleo para resolver questões familiares e cíveis, mas ainda
têm muito medo de denunciar o agressor. Elas até querem a medida protetiva, mas
não aceitam a representação criminal por uma lesão corporal cometida, por
exemplo. A maioria delas se sujeita a anos de agressão em razão de dependência
econômica e também pelos filhos", indica.
A
denúncia, no entanto, segundo Nantua, pode ser feita independente da vontade da
vítima, caso constatada a lesão corporal, por exemplo. O Ministério Público
pode ingressar com ação contra o agressor.
"Existe
a nossa rede apoio, que vem crescendo e hoje funciona dentro da Casa da Mulher
Brasileira. Temos todo o apoio possível para que essa vítima seja acolhida e
possa denunciar e ter todo sustento para o que precisar, tanto no jurídico
quanto no psicológico", indica.
Quebra do ciclo
Na
avaliação da defensora Anna Kelly Nantua, nos últimos anos as mulheres vêm se
empoderando e tendo mais forças para lutar e quebrar o ciclo de violência.
"Elas
têm tido mais essa coragem. A Lei Maria da Penha proporcionou essa segurança
para as mulheres mas, é claro, que não estamos no mundo ideal. Mas, aos poucos
a mulher demonstra mais confiança na nossa rede de apoio"
Interior
Desde
2018, o Nudem passou também a funcionar na Região do Cariri. Anna Kelly pondera
a importância do núcleo chegar ao Interior para abranger cada vez mais vítimas
e incrementar a rede de apoio.
No
Cariri, pesquisa realizada com 686 mulheres que buscaram ajuda indica que em
49,2% das vezes o agressor já responde por crimes previstos na Lei Maria da
Penha e ainda que 98,9% destes se encontram em liberdade.
O
perfil difere um pouco do da mulher fortalezense. As vítimas são geralmente
mulheres entre 21 e 30 anos (38,6%). Outro dado de destaque é que em 84,7&%
dos casos, os filhos destas vítimas já presenciaram a violência doméstica
acontecendo. Em 96,8% das vezes foi a do tipo psicológica e 73,7% a física.
Fonte: O Povo