Foto:
José Leomar
Em 2004,
quando a então deputada estadual Luizianne Lins (PT) surpreendeu o próprio
partido se elegendo prefeita de Fortaleza, havia um cenário político
completamente diferente do que temos hoje na Capital.
Embolados nas pesquisas de
intenção de voto, Inácio Arruda (PCdoB), Moroni Torgan (DEM) e Antônio
Cambraia, na época filiado ao PSDB, protagonizaram a disputa até a última
semana. Dezesseis anos depois, essas lideranças passaram à condição de
coadjuvantes, praticamente fora do jogo. Cambraia, oficialmente, declarou que
não mais se aventura pelas urnas.
Os ciclos surgem e morrem na
medida em que as forças políticas perdem discurso e acumulam desgastes. Na reta
final do oitavo ano de mandato do prefeito Roberto Cláudio (PDT), a expectativa
é de saber se o ciclo se encerrará ou se terá fôlego suficiente para eleger um
sucessor, ligado também ao governador Camilo Santana (PT).
Prever quem será eleito ou
eleita para comandar Fortaleza pelos próximos quatro anos é tarefa que nenhum
pesquisador em eleição, nem o mais experiente cacique partidário, consegue
cravar. No entanto, há caminhos que podem ser considerados numa avaliação, de
acordo com o cientista político e pesquisador do Laboratório de Estudos sobre
Política, Eleições e Mídia da Universidade Federal do Ceará, Cleyton Monte.
Ele acredita que a figura dos
padrinhos, tradicionalmente utilizada para alavancar os nomes desconhecidos do
grande público, não será determinante para a campanha. "Desde 2016, a
figura do padrinho político está em decadência, é alvo de muitas críticas. Você
vai ter, já em 2016, vários prefeitos eleitos com a bandeira de que não são
'candidatos de ninguém', que não são apadrinhados por ninguém. Em 2018, tivemos
a 'onda Bolsonaro' e uma das marcas era não ser apoiado por nenhuma liderança",
reforça Monte.
O peso de lideranças
nacionais hoje é bem menor do que nas eleições municipais passadas, segundo o
pesquisador. "Em 2012, a gente fez uma pesquisa sobre os influenciadores,
e o nome do Lula (ex-presidente do PT) foi colocado como um dos mais
importantes. Nessa época, ainda foi muito forte, mas em 2016 essa figura não
foi mais tão presente. Em 2016, Roberto Cláudio teve uma campanha focada nos
feitos dele do primeiro mandato, nas obras dele de prefeito, para afastar a
ideia de que era 'poste'", explica. Para o professor, poderá ter mais
força o "candidato que conseguir passar uma mensagem de autonomia e ao
mesmo tempo de inovação de gestão".
Estratégias
Com histórico de
reviravoltas, a Capital cearense tem ainda, como ingredientes na eleição local,
o tempo mais curto de campanha e a proibição de recursos privados para
financiamento das candidaturas, mudanças que passaram a vigorar nas últimas
eleições municipais, há quatro anos.
Dirigentes partidários ainda
ajustam suas estratégias às novas regras. Qualquer erro de cálculo pode custar
o resultado final. Um dos pontos colocados pelo cientista político Francisco
Moreira Ribeiro, da Universidade de Fortaleza, é que a cidade também tem
histórico de padrinhos influenciando.
"A gente não pode perder
de vista essa tradição", ressalta. Segundo ele, a maioria dos nomes estão
apenas ventilados e apenas o deputado federal Capitão Wagner (Pros) é quem
aparece como nome certo para o páreo. "Os principais personagens que podem
ter uma influência significativa na eleição ainda não apareceram". Ele
lembra ainda que "a eleição começa a se definir nos últimos 15 dias, e é
aí que você vai ver o rumo que o eleitorado vai desenhando".
A inexistência de padrinhos
políticos também é uma estratégia de candidatos na disputa em uma das capitais
mais importantes do País.
Ressaltar certa
"tradição de independência" de Fortaleza, em relação a forças
políticas que ocuparam o Palácio da Abolição nas últimas décadas é comum no
discurso de quem tem pouca estrutura partidária. Ainda paira no imaginário
político o histórico de prefeitos da Capital opositores do Governo do Estado.
Reforçando os argumentos de
Monte, a professora de Teoria Política da Universidade Estadual do Ceará,
Monalisa Torres, acredita que a eleição municipal "será pautada pelas
questões próprias do município", e que "isso acaba resultando no que
vai ser debatido, e em quem seria capaz de orientar essas discussões".
Torres aposta que esse
enfrentamento de outubro próximo "não vai ser uma eleição de renovação, e sim
de avaliação de gestão".
"Nesse cenário de
disputas locais, o que vai pesar é a avaliação da gestão. Vai exigir pessoas
que tenham o mínimo de conhecimento de problemas locais. Não creio que seja a
vez dos outsiders", projeta.
Fonte: DN 6 Por: Wagner Mendes