Claret
operava tanto contas no exterior como era capaz de fornecer dinheiro vivo para
corruptores interessados em pagar as quantias a agentes públicos. Concentrava,
assim, as duas pontas da operação dólar-cabo, usada para despistar as
autoridades financeiras do país.
Embora atuassem no Brasil, os dois operavam o
complexo sistema de dólar-cabo desde o Uruguai. Grande parte dos recursos em
espécie eram movimentados pela transportadora de valores Transexpert, já
mencionada na delação do operador Álvaro Novis.
Claret e Barbosa foram presos em março do
ano passado no Uruguai em decorrência da Operação Eficiência, feita com base na
delação dos irmãos Chebar e que prendeu o empresário Eike Batista. Claret foi
citado como tendo auxiliado na evasão de US$ 85,4 milhões de Cabral
(equivalente a mais de R$ 282,4 milhões) —o que agora
revela-se ser apenas uma fração de toda operação da dupla.
Assim como a Odebrecht, o sistema “bankdrop” dos
doleiros identificava os responsáveis pelas transações por apelidos. Os irmãos
Chebar, por exemplo, receberam o nome de “Curió”.
Os Chebar procuraram a ajuda de Juca Bala após o
volume de propina do ex-governador aumentar consideravelmente após ele assumir
o estado. Em razão de sua prisão ter ocorrido numa operação da Lava Jato do
Rio, ele acabou identificado como “doleiro do Cabral”, embora os dois tenham se
conhecido de fato apenas na cadeia pública José Frederico Marques, em Benfica,
para onde foi levado em janeiro após ser extraditado do Uruguai.
DOLEIROS DOS DOLEIROS
Claret e Barbosa são descritos como “doleiros dos
doleiros” pelo Ministério Público Federal. Os dois operavam o dólar-cabo desde
a década de 1980, em agências de turismo da família Messer no Rio de Janeiro.
Em 2003, os dois decidem se mudar para o Uruguai a fim de fugir do monitoramento de autoridades financeiras do Brasil. No ano seguinte, eles “herdam” as operações da família Matalon, doleiros que atuavam em São Paulo.
Ao acumular as duas maiores praças do mercado de câmbio, passam a ser considerados os “doleiros dos doleiros”. Isso porque quase nenhum operador do mercado tem a capacidade de operar as duas pontas do dólar-cabo sem o auxílio de outros doleiros.
Embora fossem os grandes operadores, Claret e Barbosa recebiam uma pequena participação do lucro dos negócios. A maior cota era destinada a Dario Messer, que dava respaldo às operações com seu nome e captava clientes.
Messer foi dono do banco EVG, de Antigua e Barbuda, onde mantinham contas doleiros e empresários. Entre os nomes listados pela Procuradoria estão Alexandre Accioly e Arthur Cesar de Menezes Soares Filho, o “Rei Arthur”, acusado de pagar propina a Cabral.
Ele deixou a sociedade no banco em 2012, após desentendimento com Enrico Machado, outro dono do banco que também firmou delação premiada.
Fonte: Folha.com